Os arbustos balanceavam agarrados aos pinheiros um intenso tango do por-do-sol. O dia estava caminhando lentamente e virando o distante horizonte, logo atrás, um pouco apressada vinha a noite com toda sua escuridão. As ondas do mar beijavam a areia com intensidade. Caminho sobre a ponte, sento-me em seu término e começo a observar o desencontrar da natureza.
Abraço minhas pernas e sinto-me de forma nunca sentida antes. O silêncio me fazia companhia, e conversava comigo para acabar com minha solidão, por vezes com um sorriso pálido e irônico.
O céu estava alaranjado, o mar vermelho e via-me com uma mancha escura em torno de mim que poderia impedir outros de me verem. Chovia sobre a ponte, mas não sobre mim, e aquilo ao invés de confortar-me somente aumentava minha dor. Pôr minhas lágrimas para fora, ou não, não fazeria muita diferença. Era necessário libertar algumas palavras, mas meu companheiro parecia não querer ouvir-me naquele momento.
Em instantes surgiu uma longa escada diante de mim, e via-me parado nela. Ao invés de subir eu regredia e parecia estar mais disposto fazendo isso que o inverso. Sentando sobre a ponte, e ainda abraçado a minhas pernas, começo a me incomodar ao ver minhas disposição em regredir. Quando gritei para alerta-lo, mas na verdade estaria me alertando, a luz e a escada desaparecem. Parecia ser inútil aquela ação, tal quanto sentia-me ao estar ali.
Solto minhas pernas, levanto-me e caminho em direção a margem. As ondas cobriam e descobriam a ponte, e molhavam meus pés com seu toque frio. Começo a caminhar sobre a areia e observo a marca de minhas pegadas sobre ela. E notei que era daquela mesma forma que eu estava: marcado por palavras, por atitudes, por humilhações...
Enquanto caminhava e observava as pegadas, surge uma onda que em contato com a areia a movimenta o que fez apagar as pegadas marcadas nela. Parei, e me vi sorrindo. O silêncio não seria o melhor companheiro naquele momento, nunca ele poderia fazer as marcas dissiparem.
Já era noite, a lua iluminava o mar. A praia estava deserta. Não havia ninguém nas margens, nem próximo a estrada. A areia, porém, se encontrava cheia de pegadas. E parecia ser um longo trabalho para as ondas ter que apagá-las.
Sinto um arrepio na pele, e sento-me na areia. Olhava ao céu e via a marca das estrelas, olhava a lua e via a marca de suas crateras, olhava ao mar e via a marca das inúmeras ondas. Sim, marcas... Todas tão belas! Eu estava marcado, mas poderia tornar aquilo belo se obtivesse uma companhia. Nem as estrelas, nem as crateras, e nem as ondas se encontravam sozinhas, por isso não perdiam sua beleza, sua vitalidade...
Ouvia a voz das ondas, naquele instante estava tentando me enganar que nada daquilo era real, que eu não fosse real.
Passo o indicador de leve na areia, como se tocasse o mar, e traço uma face sorrindo.
Eu me vi! Não. Na verdade eu não me vi, eu estava! Não. Na verdade eu não estava, eu sentia! Não. Eu não sentia, eu estava vivendo aquilo. E sorri, na verdade foi inevitável não sorrir. Eu estava feliz! Não. Na verdade eu estava alegre. Não... Não... Não! Eu só estava ali... Vendo, sentindo e vivendo aquele sentimento, porém ainda sua dor.
Não houve mais nada, nada mais houve ali. Restava eu e meu sentimento, nada a mais, nada além!
Se essa era a ferida que causava dor, seria necessário cicatrizá-la.
Erguei-me e progredi.
Por: Wesley Carlos