Um lençol escuro cobria o céu de
sonhos... Não havia nenhum brilho que pudesse ser comparado à lua ou as
estrelas para assim ser chamado de belo, a única coisa que brilhava eram
algumas lágrimas que desciam pela nascente de dor que meus olhos observavam.
Aquelas mãos se mantinham cruzadas, os outros olhos não me percebiam ali, eram
sorrisos, trocas de carinhos e cada vez mais a vida lançava outra camada de
forma a cobrir todos os sonhos e gerar seu esquecimento.
Caminhei na
direção contrária, sentei na calçada com as mãos na cabeça e escondendo de mim
mesmo minhas próprias lágrimas, eu olhava para aquela fonte que nunca secara.
Já não via a infinidade de sonhos, mas ainda sabia de sua existência.
Por anos
sonhei com um amor que na verdade nunca existiu, ou não deveria ter existido...
Aquele amor que há tempos desfalecera fizera parte de mim por muitos anos:
completava-me mesmo estando eu incompleto. Saciava-me mesmo nada dele
consumindo. Fazia-me sonhar, quando sonhos ainda não existiam.
Aquele
sentimento perfeito, fora na verdade o mais imperfeito. Que exigiu que eu fosse
mais racional que sentimental... Sim, às vezes é necessário ser sábio e
escolher entre um sentimento ou sua própria felicidade.
Eu sabia que
Clara e Diogo estavam juntos, não sabia, porém que não haveria mais a amizade
entre eu Clara e Diogo. Olho para eles e vejo uma junção de sonhos, e um
desfalecer feliz de uma infelicidade, da minha infelicidade. Estavam felizes e
naquele instante eu percebi que aquele sentimento jamais poderia ser responsável
por minha alegria. Jamais poderia fazer parte da minha história...
Por anos
alimentei o imaginário, por anos corri atrás do que se mantinha parado. O amor
estável, o amor perturbador, o amor egoísta, o amor que nada além de amor ainda
não existia. Eu amava no instante que não sabia amar, que não sabia me
diferenciar, me decifrar. Eu amava Clara, mas não percebia no amor que deveria
nascer em mim por mim.
Agora sim, vendo as trocas de
carinho, vendo que ambos estavam ali felizes percebi que o amor que eu senti, o
amor que eu guardei, todo aquele sentimento não existiu. Era somente um sonho!
Algo que sonhava ter, sonhava almejar, sonhava um dia receber... Era sonho! E
meu céu acabava de ser coberto, eu perdia sua visão, eu perdia aquele
raciocinar e com isto o seu sentir.
Levantei-me da calçada, enxuguei
as poucas lágrimas que restavam e peguei meu casaco que caíra ao chão. Fui
caminhando lentamente, finas gotas de chuva caíam sobre mim, finas gotas de
sonhos se desprendiam do céu e caíam sobre a cidade, finas gotas frias e
quentes, gotas secas e molhadas, gotas inexistentes e deterioradas... Pedaços
do que eu sonhei, pedaços do que eu senti, parte da tristeza que por anos me
prendia.
Diogo e Clara sorriam! Brincavam
na chuva... Cantarolavam!
Diogo e Clara se alegravam!
Corriam na chuva... Comemoravam!
Diogo e Clara se olhavam!
Diogo e Clara se aproximavam!
E os lábios, os lábios que
deveriam ser meus lábios, nos dele se encontravam.
E as finas gotas, em grossas se
transformavam... E a enxurrada me levava, me desaparecia e eu já não me
encontrava mais. Não sei para onde fui, o que me tornei e se vivi sem ela...
Sei que aquele amor morreu no instante que vi a junção do amor de Clara por
Diogo. Era confuso sentir o insensível e viver, então, acabei desistindo de
mim.
Por: Wesley Carlos