Uma leve chuva ia de encontro ao solo lá fora. Coloco a xícara de
chá na janela, puxo uma cadeira, sento-me, e fico quieto com as mãos entre as
pernas para o frio não me ver. Alguém bate a porta, não queria abrir, pois já
sabia quem era. E ela sabia que eu estava ali, sem minha permissão empurrou a
porta e entrou.
- Resolveu
voltar? – perguntei sem olhá-la.
- Eu não
disse que voltaria, mas desta vez é para ficar.
- Fique a
vontade. – falei não dando muita importância.
- Não irá questionar minha presença aqui?
- Não, -
ainda sem olhá-la - é melhor que seja assim.
- O amor já
se foi, não é?
- Sim, junto
com a alegria. Acabaram de sair, eu sabia que sem eles iria me restar você.
- Já chegou
meu embrulho?
- Que
embrulho?
- Um
presente! Mandei pelo correio, já deve está chegando.
- E o que é?
– perguntei mantendo os olhares na xícara e passando o indicador na borda
lentamente.
- Descobrirás
quando chegar...
Preferi não a
olhar e ver na verdade quem estava ali, mas eu já havia ouvido aquela voz antes
e sentido aquele perfume.
- Você sabe
quem sou? – perguntou a voz por trás de mim.
- No momento não importa saber quem és.
- E como
deixas entrar em sua casa quem ao menos não sabe o nome?
- Eu deixei?
Nem a porta eu abri para você.
- Mas também
não me pediu para sair...
- Pouco
importa você está ou não aqui. Algumas coisas já andam perdendo o valor.
Alguns
minutos em silêncio.
- Você
acredita na...
- Olha - interrompi
– você não devia está calada?
- Mas por
quê?
- A solidão
geralmente se alimenta do silêncio.
- Mas é aí
que se engana. Eu não sou a solidão, sou a tristeza... A sua tristeza!
Olho para
trás e visualizei a sala vazia e escura: chorei.
- Olha, parece
que seu embrulho chegou... E parece que comprei o tamanho exato para teus
olhos. Fiquei indecisa na cor e no sabor. Gostou dessas? Se não...
- Ah! Chega!
– falei não controlando minhas lágrimas – porque brincar tanto comigo assim?
Não tem sentimentos?
- Não, eu sou
um!
- Não tem
coração?
- Não, sou
como os vírus, dependo do teu corpo para existir.
- Chega! – e
as lágrimas continuaram a cair.
- Nossa!
Parece que a raiva entrou pela porta e não vemos. Vou deixá-la conversar com
você antes da solidão chegar. Mas nem adianta sorrir, vou ficar aguardando ali
na sala de estar.
A chuva lá
fora continuava a cair. Mesmo com a janela fechada meus braços estavam
molhados. Meu chá estava frio, e meus poros se arrepiavam. O vento entrava pela
fresta da janela e movimentava as cortinas... E ainda de cabeça baixa, chorava.
- Também não
sei! – resmungou a raiva baixo.
- Não sabe o
que?
- Porque eu
sempre venho junto da tristeza...
- Basta não
vir...
- Não dá, ela
sempre deixa as pessoas iradas consigo mesma. Junta ela e a recordação e alguns
de seus presentes... Sempre ando com elas, mas só me atraso pros eventos e
nunca fico até o fim. Quebro um copo, dois talvez, e vou...
- Vai para
onde?
- Se instalar
no coração de quem estava me sentindo.
- Então você
não vai. – conclui mantendo os olhares em meus pés.
- Vou sim, é
que lá outros sentimentos sempre me vencem. Só faço estragos aqui fora. Porque
mesmo você está assim?
- Para! –
gritei – sai da minha casa. Sai de perto de mim... – e derrubei minha xícara ao
chão não me importando se o chá iria manchar meu carpete e me lancei ao chão em
seguida entre lágrimas – Ai, que dor! Como tua ausência me fere, machuca-me e
me faz sofrer...
Já não chovia
lá fora, somente em cima de meu carpete azul uma chuva originada de meus olhos.
A Raiva já havia saído de perto de mim, e quando levantei meus olhos vi-me
acorrentados a outros três.
- Quem são
vocês? Porque essas correntes?
- Eu sou a
Solidão, esta é a Recordação e a outra a Dor. Sempre andamos juntas, amigas inseparáveis
sabe? - e sorriu como se fosse de mim, mas era só não queria acreditar que
realmente fosse.
Ainda
ajoelhado ao chão, chorava. Já não podia me controlar mais, era como se todos
ali juntos me faziam de marionete.
- Ah! Porque
viver assim? – perguntei os olhando com piedade – Porque, meu Deus? Por que...
- Conta logo!
– ouvi a Raiva cochichando no ouvido da Solidão.
- O que estão
escondendo de mim? As correntes me ferem, deixam marcas em meu corpo...
Retire-as, por favor!
- Não! Iremos
te fazer companhia para não se sentir tão só. Mas respondendo sua pergunta...
Você não vive mais.
- Como assim
não vivo? Eu não estou aqui?
- Está, claro
que está! Mas quem tem tristeza, raiva, solidão, recordação e dor vive? Quem
vive sem amor?
Não havia
palavras... Aqueles sentimentos estavam
me vencendo, e não tinha como aquilo deixar de acontecer. Levantei, fui
correndo ao guarda roupas comecei a folhear um álbum de fotos e logo após a rasgá-las.
Se elas não existissem não haveria lembranças, nem tristeza, nem dor... Logo,
ouço risos, alguém zombava de mim.
- Quanto ódio
já possuiu seu coração! E como apagará as lembranças da mente? Do sabor
daqueles beijos? Do calor daquele abraço? Como? – alguns sorrisos baixos – Será
melhor preparar a casa. Iremos repousar com você...
- Sem fotos
não haverá meio de lembrar-me... – respondi.
- Tem como
rasgar um perfume ou uma saudade? Ah! A saudade ainda não chegou, não é? Ela
sempre vem pelas frias madrugadas. Vocês irão se dá bem e com certeza ela irá
querer habitar por aqui também...
- Vou expulsar
todas vocês daqui. Saem! Vão embora... Agora!
- É
impossível vencer-me sozinho. Eu sou um sentimento, não estando aqui hoje,
poderei estar amanhã ou depois e que diferença isso faz? Eu vou e volto, vou e
volto... Nunca morrerei para você, até você morrer. Como irá me expulsar? –
disse a tristeza, vindo da sala.
- Onde está a
alegria? O amor? A felicidade? – perguntei.
E todas
começaram a sorrir de mim.
- Boa
pergunta... Onde estará? Acho que resolveram te abandonar como fez sua amada.
- Não a amo
mais!
- Cuidado, se
enganar é muito arriscado. – disse a solidão.
- E por quê?
Derrepente
surge algo pequenino pela porta e era o amor.
- Ele sempre
aparece mostrando que estais mentindo, abra a janela que a mentira vai entrar
como pássaro.
- Ah! Que
confusão! Por que isso, meu Deus? – fecho meus olhos e chorava não tendo mais
lágrimas para liberar.
Ao abri-los
vejo-me postado ao chão, rodeado por inúmeros sentimentos e fotos rasgadas.
Ouço a porta do apartamento bater, como se estivesse entrando mais alguns deles
ali.
E vejo uma
mão surgindo entre os sentimentos que me rodeavam e me aprisionavam, e
conseguindo atravessá-los os desfazendo. Agachou-se perto de mim, abraçou-me
permitindo que minhas lágrimas pudessem ser liberadas, de forma que dissipasse
com toda aquela dor em seus ombros.
Não era um
sentimento que entrava ali, era uma pessoa que conversava e falava palavras tão
belas para aquilo se encontrar com o fim...
- Pode
chorar, meu amigo! Assim que soube do que aconteceu vim correndo para te ver...
Ouço a porta
bater: era a solidão que se retirava indignada.
- Não fique
assim, meu amigo. Tudo isso vai passar, você vai ver. Somente mais uma luta,
mas você vai vencer. Conte comigo para te ajudar, sempre estarei do teu lado.
Não importa o que aconteça, sempre estarei aqui...
- Se o amor é
tão bom, porque ele nos permite amar quem não nos ama? Se ele nos faz tão bem,
porque sofremos e sentimos sua dor? Se ele veio para unir, porque existe
desunião? Se existe para todos, porque nunca chegou a mim? Se o amor é amor e
sem ele nada sou, porque agora tenho medo de amar? Se existe amor, porque
existe o ódio, a traição, o rancor? Por quê?
- Tudo isso
existe para que eu esteja aqui agora, meu amigo, te mostrando quem nem tudo é o
fim... Eu te amo, e é este o amor verdadeiro. O amor que nos faz bem, que une,
que está em você...
A porta
novamente bate: a raiva já não estava na roda e a mentira parecia nem ter
entrado, a verdade havia chegando antes.
- Não sei
mais o que fazer! Dê-me uma luz, eu preciso sorrir... Não sei se irei suportar!
Não sei... – falei não contendo minhas lágrimas e ainda com minha cabeça em
seus ombros.
- Vamos sair. Deixe essas fotos, amarre esses
sentimentos em um saco e os deposite no lixo. Você possui um valor maior que
tudo isso que você sente e deseja fazer. A chuva já se foi, a Clarinha está a
nossa espera. Vamos sair?
- Não! É melhor
eu ficar por aqui...
- E quebrar
mais xícaras? Rasgar mais fotos e ficar sozinho chorando lembrando-se de como
foi enganado em um passado não tão distante? Jamais te deixarei só, meu amigo,
ficarei com você!
Sorri, sem
alegria.
- Muito
obrigado, minha amiga! Eu preciso de sua ajuda para vencê-los.
A porta mais uma vez emitia seu
som: agora restava uma dor e uma tristeza não tão fortes como antes, nem tinham
voz... Existiam outros sentimentos mais fortes que chegaram junto com minha
amiga. Estes não vagavam pela casa, nem conversavam comigo. Entraram calados,
se instalaram em meu coração preenchendo um vazio tão grande que existia ali.
Levantei minha
cabeça de seus ombros, olheis em teus olhos claros e recebi um abraço sem
palavras, sem juras de amor eterno e sem beijos. Mas o melhor e mais verdadeiro
abraço, exatamente o que eu precisava. Naquele instante percebi porque existe
amor.
- Vamos? –
perguntei.
- E aonde
quer ir, meu amigo?
- Para a
felicidade!
E sorri, observando a alegria brincando de roda, com o amor, na sala de estar.
Por: Wesley Carlos
Wesley eu ameiii esse texto ! fala coisas lindas e momentos tristes da nossa vida mais tbm diz uma coisa que com nossas amizades podemos mudar o quadro da nossa vida ! Obrigada Por tudo meu amigoo eu te amooo
ResponderExcluirMais um texto profundo amigo Wesley... meu querido já foram selecionadas as 8 poesias da primeira fase do 5º Pena de Ouro, e a tua está selecionada, por isso já podes ir no Ostra e pegar o selo Trovador Lírico por ser um dos selecionados. Beijos e sábado apareça no Ostra para votação... e agita a galera :-)
ResponderExcluiralô meu poetinha vim te avisar que tua participação no Ostra já começou, então agita a galera e não se esqueça de trazer para cá o premio trovador lirico.. beijinhos doces!
ResponderExcluirConfesso Wesley que quando vi o texto fiquei um pouco com preguiça de ler...Mas de repente o texto me convidou a ser lido e foi indo, quando eu já estava no final sendo levada por esses sentimentos..."A dor do recomeço" é exatamente difícil...mas com amigos que estejam ao nosso lado fica fácil...Adorei...bjs...
ResponderExcluirSeu texto é muito profundo.A vida é cheia de sentimentos, e sentimentos são coisas dificéis de controlar, eles simplesmente vêm e vão, não batem na porta, não pedem licença. Invadem, machucam , as vezes nos derruba e deixa no chão sem ação. Acho que por isso eles sejam tão perfeito, é triste isso, mas é a realidade.Parabéns pelo texto. gostei muito! Um Abraço!
ResponderExcluirCarinhosamente venho desejar
ResponderExcluiruma linda semana.
e muitos sonhos realizados.
beijos e beijos,Evanir.
è com prazer que sigo seu blog encontrei você na madrinha Lindava.