Sua
aparência era bastante reprimível: de ombros largos, baixa, cabelos escuros e
crespos, olhos amarelados, roupa encardida, chinelo de cor distinta, unhas
grandes e acomodando sujeira, pés enlameado e magricela. De certa forma, quando
Liara apareceu em minha porta pedindo um prato de alimento meu coração em
sintonia com a alma chorou.
“A páscoa novamente não chegara farta
para todos”, lamentei-me.
Convidei para que entrasse, se
banhasse e vestir-se mais adequadamente. O calor daquele sol forte a fez
transpirar intensamente e aquilo lhe ocasionava um mau cheiro. Indiquei onde
ficava o banheiro, cedi uma toalha, uma muda de roupa nova e deixei que ela se
banhasse.
Enquanto Liara se limpava, e com isso,
eu colocava à mesa uma combinação de mantimentos, deparei-me com perguntas em
que o questionário que eu compunha fazia com que eu mesmo refletisse.
A Semana Santa da sociedade insocial
chegava revelando a cada um de nós teu próprio declínio da decadência do
espírito social nesta ânsia imoral de comemorar a santidade sendo que atitudes
dos santos ainda não cometemos.
A ausência de amor, ou ainda, da
verdadeira pureza deste sentimento, levou aos homens a paixão insaciável ao
descaso com os demais seres em vida. A sociedade contemporânea vive dentro de
um universo pessoal criado dentro de si onde tudo, e todas as suas ações,
passam a ser reflexos desta incompetência relativa de ser social em uma
sociedade egoísta e desigual: vivemos todos os dias, exclusivamente, para nós!
A páscoa, símbolo de ressurreição,
somente comprova de como precisamos renascer todos os anos e mudar. A Semana
Santa, símbolo de paixão, morte e ressurreição, somente vem para mais desta
ideia completar. É notório perceber o que esta incoerente a nossa volta. O
problema é que vedamos nossos olhos enquanto nos deleitamos em banquetes,
esquecendo-se que ali perto, existe um ser esperando que um “santo” se aproxime
e ofereça um alimento e, ainda, uma simples ajuda.
Agora me diga: onde está a ressurreição
do nosso espírito social? Onde está a paixão pela vida e por sua
qualidade? Será que esperaremos a morte e extinção da nossa própria
existência?
Nossa sociedade já não é mais
inocente, nosso ser já se tornou algo violável. A vida aos poucos faz de si
mesmo algo sem valor, e nossa pureza vai à ausência de amor... E esta mesma
pureza dissipa na imundície do desprezo com nosso próximo, como se o próximo
fosse inferior, estando à inferioridade dentro de si mesmo: o egoísmo!
Jesus vence a morte para mostrar o valor da vida. Nós estamos
vivos, e levando nossa própria essência de forma, talvez, irreversível no
colapso da ausência de ser social. E ainda somos capazes de comemorar... Que
inútil!
"Onde há
de estar o amor que Jesus semeou?", perguntava-me sem obter respostas.
Liara sai do banheiro segurando a toalha que ficara amarelada e me
entrega quieta e apreensiva. Puxei a cadeira, pedi para que sentasse e a
observei comer. Depois de se sentir satisfeita com o que havia comido,
agradece com uma voz baixa e tremula. Acena indicando que irá partir e a
acompanho até a porta... Sem olhar para trás ela seguia caminhando lentamente
na direção da nascente do riacho e, aos poucos, desaparecia vagarosamente pelo
horizonte que dali observava.
“Teria
ela o que comer amanhã? Será que haveria o amanhã?”, lamentei-me.
Por: Wesley Carlos